Com agenda de negócios no país, Mohammed bin Salman é criticado por desrespeito a direitos humanos em seu regime.
O encontro entre os dois está previsto para ocorrer em 14 de março, em uma tentativa do governo brasileiro de enfatizar a agenda econômica com o país do Oriente Médio. A informação da visita foi divulgada pelo blog de Natuza Nery, no G1, e confirmada pelas fontes da área diplomática.
O príncipe, conhecido como MBS, é apontado pela inteligência americana como responsável por aprovar o plano para assassinar o jornalista Saudita Jamal Khashoggi.
O colunista do jornal The Washington Post e crítico de MBS foi visto pela última vez no consulado em Istambul em 2 de outubro de 2018, onde teria recebido uma injeção letal antes de ter o corpo esquartejado e os restos mortais —nunca encontrados— retirados do local em sacos de lixo.
O príncipe é um dos líderes de governos autoritários que costumam ser elogiados por Bolsonaro e aliados desde o início do mandato. Em 2019, o presidente se encontrou com MBS em Riad, na Arábia Saudita, e disse ter "certa afinidade" com o príncipe, de quem afirmou ser "quase irmão".
À época, Bolsonaro fazia uma viagem com o objetivo de expor o Brasil a investidores sauditas reunidos na conferência conhecida como Davos no Deserto, em uma alusão ao evento que reúne empresas e chefes de Estados em Davos, na Suíça.
Ainda neste mês, Bolsonaro esteve na Rússia e se reuniu com o presidente Vladimir Putin. Depois, encontrou-se com Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, em uma viagem improvisada ao país, onde repetiu o gesto feito com o saudita.
Chamou o premiê Orbán de meu irmão, dadas as afinidades" e celebrou "valores que nós representamos, que podem ser resumidos em quatro palavras: Deus, pátria, família e liberdade".
Uma eventual visita ao Brasil de Yasir Al-Rumayyan, titular do PIF, o fundo soberano saudita, tenderia a ter um efeito mais positivo, já que poderia ser interpretada como um gesto de prestígio. Ao voltar da viagem à Arábia Saudita, em 2019, integrantes da comitiva presidencial anunciaram que o fundo soberano saudita investiria US$ 10 bilhões (R$ 51,3 bilhões) no Brasil, sem especificarem datas ou projetos.
Criado em 1971, o fundo é um braço financeiro do governo saudita e sua estratégia inclui a compra de participações em empresas estrangeiras.
Yasir Al-Rumayyan é uma figura proeminente das finanças sauditas. Cursou Harvard Business School, escola de pós-gradução da prestigiada universidade americana focada em administração de empresas. Integrou a direção da Bolsa de Valores saudita, preside o conselho de administração da Aramco, a maior petroleira do mundo, e faz parte do conselho de ministros do reino.
Al-Rumayyan também tem assento no alto escalão de empresas que receberam aportes mais graúdos do PIF. Faz parte do conselho de administração da Uber e participa do comando do time inglês Newcastle United, representando o fundo no consórcio que comprou o clube por um valor estimado de 300 milhões de libras (R$ 2 bilhões).
Normalmente, o mundo dos negócios recebe bem associações com um fundo soberano do porte do PIF. No início deste ano, por exemplo, a BRF dona da marca Sadia e Perdigão, assinou um memorando com o PIF para a criação de uma empresa que vai atuar em toda a cadeia de produção de carne de frango na Arábia Saudita. Logo depois do anúncio da parceria, a cotação das ações da companhia avançou 3%, enquanto a Bolsa brasileira tinha alta de 0,26%.
Mas a postura repressora do governo saudita tem afetado até mesmo as relações financeiras do reino. Logo após o assassinado do jornalista, por exemplo, o diretor-executivo da Uber, Dara Khosrowshahi, cancelou a participação na Davos do Deserto.
Agências de notícia divulgaram na época que em um telefonema a Al-Rumayyan, o executivo havia dito que considerava as acusações terríveis.
No caso do Newcastle, afetou o andamento do negócio. A Premier League vetou a venda do time, que foi parar na justiça, porque não queria permitir que um Estado complacente com pirataria dos sinais de TV dos jogos do campeonato fosse autorizado a ter um clube local. Parte da torcida também não gostou da perspectiva de ter o time associado a um regime autoritário.
Entidades não governamentais avisaram que o desrespeito aos direitos humanos, marca da gestão do príncipe Mohammed bin Salman, iria prejudicar a imagem do Newcastle.
O governo Bolsonaro já manifestou a intenção de oferecer ao PIF a Ferrogrão, ferrovia planejada para ligar Mato Grosso ao Pará e escoar a safra de grãos do Centro-Oeste pelos portos da região Norte.
O projeto, considerado vital para o agronegócio na análise do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, prevê 933 quilômetros de trilhos e vai demandar investimentos de R$ 21,5 bilhões. Por atravessar parte da Amazônia, com riscos ambientais e para a segurança de comunidades indígenas, especialistas do setor questionam a sua viabilidade, o que afugenta investidores preocupados com a agenda verde.
Apesar do atraso para fechar ofertas desse porte em solo brasileiro, os bolsonaristas já agradecem ao reino saudita.
Em março de 2021, em seu discurso de despedida na presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, o deputado Eduardo Bolsonaro elogiou o Príncipe Saudita e destacou a promessa de investimentos bilionários no Brasil.
"Exemplo objetivo deste trabalho é o acordo com o fundo de investimento público saudita para explorar oportunidades no Brasil, com investimentos mutuamente benéficos em até US$ 10 bilhões. Obrigado, príncipe Mohammed bin Salman", disse o filho do presidente.
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